As perguntas mais comuns nos consultórios que
tratam obesidade respondida por três especialistas no assunto
Chris
Bertelli, iG São Paulo
Conheça os 4 tipos de cirurgia aprovados pelo
Conselho Federal de Medicina
Especial: redução de estômago
O último
levantamento feito pela Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e
Metabólica mostrou que, só em 2010, foram realizados mais de 60 mil cirurgias de
redução do estômago no Brasil, um número três vezes maior do que em 2005.
Cada vez
mais popular entre os tratamentos para a obesidade, o procedimento ainda é
cercado de dúvidas, especialmente de parte dos pacientes. O iG Saúde
reuniu as dúvidas mais comuns nos consultórios dos especialistas em obesidade
no País e pediu a três profissionais que respondessem a essas questões.
1 – A
cirurgia bariátrica é reversível?
Apenas a gastrectomia vertical (em que um pedaço do estomago
retirado) e o duodenal switch , onde uma das etapas da cirurgia
é a gastrectomia vertical, não são reversíveis. As demais técnicas podem ser revertidas.
No entanto, a reversão é extremamente complicada, oferece mais riscos do que a
cirurgia em si e realmente só é feita em casos extremos, como em pacientes com câncer ou com aids . Se o paciente está com peso normal estável
e as doenças estão controladas não há razão para desfazer o procedimento.
2 – Vou
poder comer como antes, mas sem engordar?
Não.
Nenhum procedimento faz milagre. As cirurgias prescindem de reeducação e
manutenção alimentar e física para que os resultados sejam efetivos. O paciente
precisar ter em mente que a cirurgia é apenas o início de uma mudança de vida,
que inclui comer corretamente, de forma mais saudável, incluindo no cardápio
frutas, verduras, legumes, carnes, pães integrais, sucos. O paciente poderá
comer de forma mais comedida e com mais frequência, de 3 em 3 horas, deixando
as guloseimas para ocasiões especiais.
3 – Como
ter certeza de que a técnica é regulamentada?
No Brasil
existem hoje quatro técnicas regulamentadas pela Resolução nº 1.942/2010 do
Conselho Federal de Medicina (CFM), que estabelece normas seguras para o
tratamento cirúrgico da obesidade mórbida, definindo indicações, procedimentos
e equipe. Os demais procedimentos e técnicas cirúrgicas para o controle da
obesidade não apresentam indicação atual de utilização ou ainda estão em fase
de estudos.
4 – Qual
o perigo de me submeter a técnicas não regulamentadas?
Profissionais
que praticam técnicas não aprovadas pelo CFM estão atuando fora da legislação
brasileira e expondo seus pacientes a riscos desnecessários de complicações e
morte. Para uma técnica ser aceita, ela precisa ser comprovada por anos de
pesquisa clínica e ter perfis de segurança e eficácia aceitáveis, passando pelo
crivo dos órgãos regulatórios de saúde de cada país. Prometer soluções mágicas
do tipo “coma tudo o que quiser e não engorde” é, no mínimo, mentiroso e
antiético.
5 – Quais
as chances de ganho de peso posterior? Em quanto tempo isso é observado?
Até dois
anos após a cirurgia, o paciente ainda está perdendo peso. A partir do momento
que esse processo se estabiliza, é possível haver algum ganho, caso o paciente
“baixe a guarda” e não se esforce para manter o peso. Esforço significa manter
uma dieta balanceada e atividades físicas, o que é recomendado para os operados
ou não. A cirurgia é apenas o primeiro passo rumo a uma nova vida e é preciso
abandonar antigos costumes nocivos e adotar uma forma de vida mais saudável,
que inclui dieta equilibrada e a prática de exercícios.
O
principal fator para ganho de peso posterior é a não adesão ao tratamento, que
não se resume apenas às cirurgias bariátricas. O tratamento deve ser
multidisciplinar, ou seja, com médico, nutricionista, psicólogo e educador
físico, já que o paciente deverá a aprender a viver de uma maneira diferente.
6 – Como
escolher um bom cirurgião bariátrico?
Ao tomar
a decisão, procure profissionais habilitados com experiência comprovada na área,
evitando aqueles que prometem soluções milagrosas ou que pratiquem técnicas não
aprovadas pelo CFM. No site da SBCBM consta a relação de todos os
cirurgiões associados, que, obrigatoriamente, passam por programas de
atualização e revisão científica.
7 – A
mulher que passa por uma cirurgia de estômago pode engravidar? Ela deve ter
algum cuidado extra nesse período?
Recomenda-se
que a mulher aguarde 18 meses depois da cirurgia para engravidar, assim o organismo
estará mais adaptado. É importante ter um acompanhamento médico e nutricional
durante toda a gravidez ,
para evitar a carência de vitaminas essenciais
para o bebê. Se for o caso, o médico pode indicar uma suplementação oral ou
injetável. O pré-natal deve ser acompanhado pelo nutricionista, cirurgião e
obstetra.
8 – O
paciente que vai se submeter à cirurgia deve parar de fumar e de beber? Por
quanto tempo? Quanto tempo depois da cirurgia ele pode voltar a fumar e ingerir
bebidas alcoólicas?
Quem faz
uso destas substâncias têm um risco maior para complicações em qualquer
procedimento. Portanto, o ideal é que pare de fumar e de beber. Além de todos
os riscos, a nicotina prejudica a cicatrização da pele, o que pode levar à
infecção. As bebidas alcoólicas são agressores das mucosas do estômago e do
intestino e reduzem a absorção de alguns nutrientes, por isso devem ser
evitadas, sobretudo nos primeiros 6 meses, quando ocorre uma readaptação do
trato gastrointestinal. O álcool é absorvido muito rapidamente após a cirurgia
e cai na circulação sanguínea podendo levar à embriaguez mesmo com pequenas
quantidades.
9 – O que
é o dumping? Todo operado tem?
Todo operado
está sujeito a ter a síndrome de dumping. O consumo de alimentos calóricos
doces (pudins, sorvetes, milk-shake, leite condensado, sucos com açúcar,
refrigerantes) e gordurosos pode causá-la. O Dumping acontece quando, depois de
beber ou comer, o paciente apresenta taquicardia, sudorese, tontura, queda da
pressão arterial e diarreia. Qualquer combinação destes sintomas pode ocorrer
em intensidades variadas, dependendo do que a pessoa comeu. Alimentos ricos em
açúcares e gorduras, em excesso, não devem fazer parte do cardápio de ninguém,
operado ou não.
10 –
Alguns pacientes operados relatam queda de cabelo intensa e unhas quebradiças,
entre outros sintomas. Porque eles ocorrem?
Queda de
cabelo e unhas quebradiças são sintomas comuns durante qualquer processo de
emagrecimento, seja por cirurgia, dieta ou em decorrência de doenças que
"consomem" a pessoa (como o câncer, por exemplo). No caso do paciente
bariátrico, esses sintomas não devem persistir por mais de quatro meses.
Se não houver acompanhamento com a equipe multidisciplinar, o paciente pode
apresentar déficit de vitaminas e proteínas, o que pode levar a estes sintomas.
Nesses casos, é preciso rever a alimentação com o nutricionista e, se
necessário, iniciar suplementação vitamínica oral ou injetável.
11 –
Quais as possíveis complicações durante e após a cirurgia?
Os riscos
são os mesmos de outras cirurgias abdominais, por isso a bariátrica deve ser
feita em um hospital com estrutura adequada. Nas cirurgias disabsortivas é
comum haver falta de nutrientes devido à baixa ingestão de alimentos e é
necessária a suplementação vitamínica. Mais raramente, a cirurgia bariátrica
pode gerar complicações como infecção, tromboembolismo (entupimento de vaso
sanguíneo), deiscências (separações) de suturas, fístulas (desprendimento do
grampo), obstrução intestinal, hérnia no local do corte, abscessos (infecções internas) e pneumonia .
12 – O
efeito da pílula anticoncepcional após a cirurgia pode ser reduzido?
Nas
cirurgias restritivas não há problemas, mas nas cirurgias que privilegiam a
mal-absorção, pode ser que a pílula anticoncepcional tenha eficácia reduzida.
Em muitos casos, recomenda-se a utilização de dois métodos anticoncepcionais
concomitantamente, mas essa é uma avaliação que deve ser feita caso a caso pelo
ginecologista.
13 – É
necessário fazer complementação de vitaminas? Por quanto tempo?
O
paciente submetido a cirurgia bariátrica deverá ser acompanhado por uma equipe
multidisciplinar por toda a vida. Ele deverá realizar exames sempre e a
reposição poderá ou não ser realizada. No entanto, se o paciente conseguir manter
uma alimentação adequada, rica em carnes magras, verduras, legumes, frutas e
massas integrais, a suplementação vitamínica não é necessária.
Contudo, com o estilo de vida moderno, nem sempre isso é possível, então os
suplementos vitamínicos entram como aliados para combater os sinais da falta de
nutrientes (fraqueza, queda de cabelo, unhas quebradiças, dor de cabeça). Em alguns casos, a suplementação
pode ser para a vida toda.
14 –
Depois da operação, terei que fazer exercícios físicos?
Sim,
sempre. Os exercícios físicos fazem parte do tratamento da obesidade,
independente da técnica utilizada. Os benefícios do exercício são ainda maiores
para os operados: aceleração do processo de emagrecimento, ganho de massa magra
(músculo), redução da flacidez, melhora do condicionamento físico, melhora do
desempenho cardiorrespiratório, fortalecimento dos ossos e ganho de disposição.
16 - Alguma técnica permite comer mais do que outra?
Em todos
os procedimentos, o paciente deve se habituar a comer pequenas quantidades,
várias vezes ao dia. As cirurgias disabsortivas, como o Scopinaro e o Duodenal Switch , permitem que o
paciente tenha uma capacidade maior de alimentação. Em contrapartida apresentam
efeitos colaterais sérios como o aumento da frequência evacuatória e a urgência
evacuatória.
17 -
Quanto tempo dura o processo de emagrecimento? Há risco de emagrecer demais?
Perde-se
peso mais rapidamente no primeiro e no segundo ano após a cirurgia, mas a
velocidade do emagrecimento vai diminuindo até estacionar, geralmente por volta
do segundo ano. Todo ser humano tem um peso ideal em torno do qual o corpo
tende a se estabilizar, ainda que pequenas variações para mais ou para menos
sejam comuns ao longo dos anos.
Fontes consultadas: Ricardo Cohen, presidente da Sociedade Brasileira de
Cirurgia Bariátria e Metabólica (SBCBM); Claudia Cozer, endocrinologista
da Associação Brasileira para Estudo da Obesidade (Abeso); Hercio Azevedo
Cunha, professor de gastroenterologia da Pontifícia Universidade Católica de
Campinas (PUC), e membro da SBCBM . Site Saúde.ig.com.br